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um comboio, uma tempestade, um arco-íris encarnado

Pedro Simão Mendes, em 14.04.11

a train and a storm

(03:27)

 

 

um comboio, uma tempestade, um arco-íris encarnado

 

     o galopar leve e longínquo de um comboio aumenta a sua intensidade enquanto se aproxima desta estação, quase vazia. sincroniza-se com o bater do meu coração e, cada vez mais perto o comboio, mais forte é este bater. de olhos cerrados, sinto-o varrer-me o frio da cara à medida que por mim passa, com a pressa de chegar a sítio algum, e a corrente de ar foi tal que deu o meu cachecol ao vento, fruitivo do meu fechar de olhos, enquanto por ela espero.

     o cachecol encarnado, pelo vento levado, esvoaçou e o pobre homem, coitado, agarrá-lo tentou. um vislumbre do céu ao longe mostrava negras nuvens a correrem à estação, talvez queiram apanhar o comboio, mas o comboio já passou. o aviso de uma qualquer passagem de nível gritava, era só o que ali se escutava. e quando as nuvens, enfim, chegaram, viram que o comboio havia já partido. então, ali se ouviram trovões que delas vinham: não chovia, no entanto, mas as pessoas, que eram poucas, ainda fugiam, excepto o pobre coitado, que procurava o cachecol encarnado.

     caia a chuva, ao de leve, talvez, que o sol se deita no horizonte. e se é tão forte, este vento, que leve as nuvens fora daqui. olha, acalmaram, já não gritam, agora choram. cai a chuva, finalmente, que o sol já se deita no horizonte. são raios de luz penetrantes em gotas de água, que me fazem sorrir, neste fim de tarde. o comboio passou e não parou: ele não veio, como esperava, e aqui o espero, só, abandonada. e o que é isto, aqui no chão?, deixa-me apanhá-lo, está tanto frio. perdeu-o alguém?, mas achado não é roubado. neste inverno, hei-de querer aquecer-me, mas ele não está, e o encarnado fica-me bem ao pescoço.

 14.04.2011

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às 19:30



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