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«e a ideia de que alguma coisa de si mesmo, uma palavra, um rasto de sentimento, ficaria ainda, depois de si, no coração de alguém, numa lembrança humana, pareceu-lhe infinitamente consoladora - uma ideia medíocre, própria duma criatura medíocre, mas que parecia, naquele momento, infinitamente consoladora.»
-- in mundo fechado, de agustina bessa-luís
porque esta semana tenho tido tempo para fazer o pequeno-almoço com calma, optei por fazer uma receita de panquecas que já tinha o hábito de fazer, mas numa vertente mais energética, e com sabores mais outonais. acrescentei-lhe flocos de aveia, mel, banana e canela.
a receita (serve cerca de 9 panquecas) é muito simples de fazer e o resultado é maravilhoso. panquecas extremamente fofas, sem sair de casa.
ingredientes:
preparação:
eu misturei um pouco de canela e de flocos de aveia na massa e acompanhei com mel e banana. recomendo!
*a massa deve ficar algo espessa e a borbulhar. o objectivo é o de não se espalhar muito na frigideira na hora de cozinhar; pelo contrário, deve crescer de forma a aumentar o seu volume e ficar alta e fofa (e não espalmada, como um crepe), como podem ver na foto abaixo:
bom apetite!
acabei de me candidatar a uma bolsa de doutoramento. wish me luck.
work. eat. sleep. repeat
passo horas no centro da cidade. passo dias no centro da cidade. primeiro chove, agora faz sol. é o verão a terminar, o outono a despertar. sou eu a trabalhar, a oferecer panfletos: é para que dá um mestrado nos dias de hoje, neste país.
a dezassete de setembro de dois mil e quinze, hoje, relembro como é o outono de braga. o frio banhado pelo sol que aquece e evapora a água de chuvas prévias; o cheiro a castanhas assadas no ar; as pessoas a passear na avenida; os velhos sentados nos bancos do jardim, ou na esplanada d'a brasileira. tinha saudades da minha estação predilecta (que na verdade ainda não chegou) nesta minha cidade. é que há um ano estive longe, não foi a mesma coisa. aqui o sol aquece de verdade, e o céu é mesmo azul; aqui as castanhas são genuínas e as pessoas também.
aqui posso dizer que o ar me cheira a outono. aqui posso sentir o outono chegar-me à pele, ao nariz e ao palato. e vê-lo chegar nas cores das folhas que mudam lentamente ou nas roupas quentes que os corpos trazem, no vazio das ruas quando chove ou nas pequenas multidões sob o sol breve.
entrego panfletos a idosos, público-alvo da campanha publicitária/de rastreios de saúde. atento a pormenores que usualmente me passam despercebidos, comovendo-me com a desumanidade que as pessoas carregam e com a inocência das crianças que se perde depressa demais, e fico triste.
percebo que a evolução da sociedade tornou a nossa vida numa simples, vã existência. uma inércia purgatória, em que o quotidiano não passa de um repeat vazio de sentido(s). e nesta repetição, caminhamos de olhos fechadas e, por isso, não (nos) vemos.
os velhos têm muito para ensinar, mas sinto que têm muito que aprender também. faz falta falar. faz falta abrir os olhos. e os ouvidos. e a mente. no fundo, acordar e (voltar a) viver.
antes que seja tarde demais.
Quero a vida a preto e branco.
Não
Quero a vida, preto no branco.
Não
Antes, quero a vida sem preto,
só branco.
Sim, quero a vida em branco.
Poder escrever nela algo novo,
tudo novo
nada preto
só cor.
Talvez um desenho, raro,
e, certamente, palavras que abundem
e jorrem vida a cores, naquele fundo
branco
sem preto
só branco
e esporádicas cores,
mas nunca o preto.
E se tal sonho for alto demais para ser sonhado,
dêem-me, por favor, a vida acinzentada.
escrito a 27.08.2015