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do equinócio de outono

Pedro Simão Mendes, em 21.09.17

deitado na cama, aguardo o outono chegar. vi já algumas folhas caídas nas ruas, e as primeiras chuvas, breves, trouxeram consigo a nostalgia desta estação. o equinócio, contudo, é só amanhã. e eu já não aguento. quero voltar a escutar a chuva no parapeito da minha janela antes de adormecer e, enquanto o faço, imaginar-me experienciá-lo contigo. imagino os teus lábios nos meus, e sinto saudade. penso que beijar-te seja talvez como escutar o mar sem sair sequer dos lençóis onde estou deitado. como se, quando tocam os meus, os teus lábios me trouxessem o que gosto, mas não posso alcançar pela distância.

e nesta fluidez de pensamento, sei que é contigo que quero passar todas as minhas noites. não só as de outono, mas todas as noites de todas as estações. mesmo que as noites sejam negras, e possam esconder alguns fantasmas. amor, não importam os fantasmas. nem os teus, nem os meus.

confesso, contudo, que embora me saiba melhor o frio, não gosto assim tanto de chuva. talvez apenas da sua canção. aliás, detesto aqueles dias húmidos em que o frio e o relento parecem entranhar-se na pele, quase tocando os ossos. e o outono é precisamente a passagem dos dias soalheiros para esses, cinzentos, que nos arrastam, húmidos, para dentro de casa. talvez por isso tenha deixado de ser a minha estação predilecta. e porque não gosto também do calor excessivo, nem do queimar do sol na pele, nem das alergias, fico perdido entre todas as estações, e sinto já não me encaixar em nenhuma delas. mas contigo a meu lado, nem as estações importam. só a viagem.

 

escrito a 21.09.2017

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às 16:23



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