longing for colors

  tenho tido ciclos depressivos cada vez mais frequentes. numa semana consigo ser produtivo, sinto-me relativamente bem, e logo na seguinte fico totalmente apático, sem vontade para o que quer que seja. o que mais me custa, todos os dias, é arranjar vontade para sair da cama.

  é um despertar sem que veja futuro algum. é perceber todos os dias que não há sentido nenhum nesta vida que vou vivendo, e que não há propósito que justifique a nossa existência. e é por isso que chego a invejar quem tem fé numa qualquer religião que, apesar de irracional, alenta a existência humana com a esperança de um propósito que pode fazer sentido.

  depois penso que mesmo sendo racional, talvez seja possível arranjar um sentido para os meus dias. e que aumentar o conhecimento humano, realizando investigação, é um óptimo propósito, e digno. mas depois sinto que não me satisfaz. é que tentar perceber a metamemória (a nossa capacidade de pensarmos acerca da nossa memória) através da avaliação dos julgamentos de aprendizagem (avaliações probabilísticas do desempenho numa tarefa de memória futura) quando pessoas estudam palavras comuns e raras, acaba por não ser assim tão fascinante que me faça sentir que tenho um propósito na vida. foi trabalhar uma meia vida até aqui, focado nisto, num percurso académico, numa carreira académica, para depois ficar desiludido com esta realidade.

  é mais do mesmo, eu sei. mas não consigo quebrar este ciclo. daqui a mês e meio vou para a alemanha durante uns meses. talvez a mudança de ares me faça encontrar algum sentido, ou pelo menos me permita relativizar o meu lugar no mundo, e que o resto dos meus dias, no doutoramento, e além, não seja tão sofrido.