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estou salvo: comprei uma máquina de café em cápsulas. é da dolce gusto, e apanhei-a em promoção. talvez a leve para portugal, e lhe continue a dar uso. ou talvez a venda antes de regressar à minha terra natal. de qualquer forma, finalmente posso beber (relativamente) bons expressos sem ter de vender um rim.
esta última semana foi bastante atribulada e, confesso, passou quase a correr. na segunda-feira voltei a reunir com a investigadora com quem trabalho aqui para acertar alguns detalhes de como o semestre vai funcionar, e para lhe apresentar os resultados detalhados dos estudos que já fiz em portugal. ao final do dia, fui com alguns alunos de doutoramento para a beira-rio, para petiscar uns snacks e beber vinho, sidra, e cerveja. um pôr-do-sol junto ao rio reno, que depressa se tornou um serão agradável. jogámos uma versão escandinava do jogo da malha (muito mais complexa e engraçada), e exploding kittens já no bréu da noite. todos têm sido fantásticos comigo, pelo que já não sei de onde vem o estereótipo dos alemães serem gente fria. embora talvez seja da cidade: disseram-me que, em geral, mannheim é uma cidade mais quente do que o resto da alemanha. este facto, desvendado na semana passada, veio tarde demais porque vim preparado para um outono muito frio. a verdade é que as temperaturas dos últimos dias têm rondado os 30 graus de máxima, e os 20 de mínima.
o resto da semana passou a correr: tratei da minha inscrição na universidade junto do welcome center, e fui buscar o meu cartão, que ficou pronto ontem. também tenho um email da universidade! uma das coisas fantásticas aqui é que os estudantes podem utilizar gratuitamente os transportes públicos a partir das 19h e aos fins-de-semana, mesmo sem terem passe mensal, bastando apresentar o cartão. o resto do tempo foi passado a tratar das listas de palavras, controlando tudo o que conseguisse, e garantindo que terei materiais suficientes para todos os estudos e evitando a realização do estudo piloto. esta tarefa foi cumprida com sucesso, o que me deixou bastante motivado. comecei (e terminei) a programação da primeira experiência, mas ainda espero feedback da investigadora. fui socializando com os dois únicos alunos de doutoramento que estiveram pelo laboratório e que partilham o mesmo andar comigo, o que serviu para não dar em doido. compras para aqui, compras para ali; (video)chamadas para portugal para me manter a par das novidades, e é isso.
tenho reflectido que a alemanha, ou pelo menos mannheim, é uma boa cidade para se viver. nota-se que as pessoas têm (ou podem ter) qualidade de vida. a discrepância de preços que se praticam em portugal e na alemanha torna-se cada vez mais notória: das rendas a um simples gel de banho. hoje vi um t1 em braga com aluguer de 600€/mês, quando eu estou a pagar 450€ aqui em mannheim por um estúdio que inclui serviço de limpeza (roupa de cama e casa de banho), numa localização mais que central (estou a menos de 5 minutos a pé do edifício principal da universidade, e a 10 minutos do meu gabinete, que fica noutro edifício). e também hoje comprei um gel de banho da nivea (750mL) que me custou 2.65€, sem ser em promoção, quando em portugal é mais de o dobro do preço. talvez investir para conseguir algo para estes lados não seja um mau plano para o futuro... mas isso são outros quinhentos.
na próxima semana talvez comece a recolher dados (ou talvez não, porque ainda é preciso lidar com umas burocracias, e aperfeiçoar a experiência). de qualquer forma, já terei 2 colóquios (meetings) a que sou obrigado a ir, pelo que estarei ocupado. vou começar a perceber melhor a forma de trabalhar daqui e isso será provavelmente o tópico da próxima crónica.
vapor
sempre tive um certo interesse pela língua alemã. embora a maior parte das pessoas que conheço repudiem a sua fonética (porque a verdade é que falando alemão parece estar-se sempre zangado), e a considerem uma língua fria, eu sempre a considerei uma língua forte. claro que também acho piada ao islandês, e não gosto muito das línguas latinas para além do português. talvez tenha nascido no país errado.
antes de vir para cá, achei por bem preparar-me. aproveitei as unidades curriculares obrigatórias do meu doutoramento e optei por fazer uma cadeira introdutória ao alemão. claro que o curso, que durou cerca de um semestre, foi muito superficial, mas, ainda assim, deu-me algumas luzes. decidi, depois disso, fazer um curso intensivo também na universidade do minho, e andei a bombar no nível a1 de alemão nas últimas duas semanas de julho. como só viajei duas semanas depois, e a minha prática da língua se cingiu a alguns minutos diários no duolingo (deviam pagar-me pela publicidade), acabei por esquecer quase tudo o que aprendi. e fogo, não aprendi assim tanto. e mesmo não sendo muito, há tanto vocabulário que simplesmente desapareceu!
é que o alemão é uma língua difícil. são os próprios alemães que o dizem. e o que eu achei mais difícil foi a questão dos artigos (der, die, das). saber que substantivos são femininos, masculinos ou neutros é uma dor de cabeça porque não há lógica nenhuma. a única forma de os aprender é decorando o substantivo com o respectivo artigo. claro que eu só aprendi o básico dos básicos, e certamente a gramática que poderei vir a aprender será pior do que isto. muito pior.
de qualquer das formas, não tive muita dificuldade com a língua aqui em mannheim (ou mesmo nos três dias que estive em frankfurt), porque a maior parte das pessoas fala inglês (sobretudo os jovens). no meu "acolhimento", o welcome center da universidade de mannheim tratou de tudo, e mostrou-se sempre disponível para me ajudar no que precise. aliás, foram preparando o acolhimento e outros detalhes desde que souberam que viria para cá, em novembro do ano passado. e fazem este acompanhamento para todos os alunos e convidados internacionais. estes alemães não brincam em serviço. claro que quando vamos ao supermercado, as coisas já não são bem assim... apanhamos gente mais velha que não aprendeu inglês, e a coisa torna-se complicada.
a propósito disso, tive uma situação (agora) engraçada que me deixou ligeiramente em pânico na altura. no primeiro dia que fiquei cá sozinho, já depois de ter tido uma reunião na universidade, decidi fazer mais algumas compras para o apartamento, nomeadamente de produtos de limpeza. fui a um supermercado em hora de ponta (por volta das seis da tarde). e esse foi o meu erro. aqui, os/as caixas já são rápidos com pouco movimento, mas quando há muita gente, tornam-se nos sonic das superfícies comerciais. sabem como o minipreço tem aquele sistema de atender duas pessoas ao mesmo tempo? (caso a primeira ainda esteja a colocar as compras no saco, atende-se logo uma segunda pessoa, ficando com duas compras separadas em simultâneo) pois, eu achava que aquele supermercado funcionava de forma igual, porque a senhora a seguir a mim estava a pagar as compras enquanto eu ainda ensacava as minhas, sem as ter pago. essa senhora foi embora, e eu tive espaço para me aproximar do terminal multibanco para pagar. a senhora da caixa passa-se e pergunta, em alemão, o que estou a fazer. eu pergunto se ela fala inglês e ela responde "a little". tento explicar que quero pagar aqueles detergentes. pelos vistos, a senhora cheia de pressa que ia a seguir a mim, pagou as minhas compras, e foi-se embora sem o talão. eu paguei as minhas compras novamente (depois da senhora gritar algumas coisas em alemão, e dizer em inglês que nós é que temos de dividir as compras no tapete, porque ela não sabe onde terminam). a situação foi tão desconfortável, que fiquei a tremelicar das mãos.
agora, os desafios com a língua são outros. preciso de palavras alemãs para os meus estudos. quero controlar algumas variáveis e manipular outras, como fiz com as palavras portuguesas que utilizei nos meus estudos em portugal. o problema é que as bases de palavras que contêm valores para essas variáveis não contêm palavras raras o suficiente (a frequência das palavras é a principal variável de interesse nos meus estudos). e como eu não sei bem se aquelas palavras soam suficientemente raras ou não, estou lixado. possivelmente terei de realizar um estudo piloto para validar palavras, o que me queimará alguns potenciais participantes e tempo útil de recolhas.
termino esta crónica com um verso de b fachada: "não estou cansado, estou fodido". embora também esteja cansado, confesso.
já me mudei. estou em mannheim, alemanha, há oito dias e aqui permanecerei até meados de dezembro. cerca de quatro meses, mais coisa menos coisa. um período semelhante ao erasmus que fiz em dois mil e catorze em lille, frança. a principal diferença é que na altura fui com quatro colegas e, neste momento, vivo esta aventura sozinho.
era suposto ter chegado apenas no dia dezanove e, realmente, há uns meses, quando pesquisei vôos para cá, cheguei a descobrir uma pechincha: vôos pela tap a sessenta euros (incluía mala de porão, e tal). uau, pensei, mas não comprei; e já no dia seguinte o preço subira exponencialmente para mais de duzentos euros. aquela trafulhice que eles fazem com as pesquisas das datas, não é? enfim. fui fazendo pesquisas em datas diferentes. pensei que viajar uns dias mais cedo poderia ser bom. achei, estupidamente, que seria bom tirar férias aqui, na semana anterior. e a verdade é que surgiu a oportunidade: dia catorze, vôos na lufthansa a cerca de oitenta euros. era de aproveitar. falei com ele, e acabámos por decidir que viria comigo. ficaríamos uns dias por frankfurt, e depois seguiríamos para mannheim, e depois ele partiria. sem mim. e eu ficaria pela alemanha. sozinho.
só depois nos apercebemos de quão caras ficariam estas férias. mas é uma vez. as férias do ano, pensámos. só que nenhum de nós se lembrou que eu poderia estar extremamente ansioso com a mudança para aproveitar o que quer que fosse da viagem. confesso que também não foi bem assim. no entanto, submeti-me a demasiado stress nestes últimos dias para que pudesse aproveitar todos os momentos em condições com ele. mas aproveitámos algumas coisas. descobrimos lugares novos, e experienciámos todas as estações do ano condensadas em cerca de quatro ou cinco dias: chuva, calor infernal, brisa fresca, e já vimos folhas castanhas caídas no chão. ficámos duas noites num airbnb antes de eu me mudar para o apartamento onde ficarei até dezembro. ele ficou cá uma noite comigo, e partiu na manhã seguinte, na terça-feira.
é tudo tão novo (e por isso de alguma forma assustador) que me tento agarras às coisas que me são familiares. e essas coisas são, maioritariamente, lojas. ver o lidl, a primark, ou até a hema (que conheci em lille) dão uma certa segurança relativamente à nova realidade. e a verdade é que os preços são mesmo muito semelhantes aos de portugal em quase tudo. claro que há uma coisa ou outra mais cara, mas no geral, as coisas básicas têm preços idênticos. a diferença é que aqui o salário mínimo nacional ronda os 1500€, e em portugal não chega aos 600€. mas isso é outra conversa.
para já, tem-me sido difícil adaptar à realidade de não haver expressos em condições, mesmo que custem 2€ (tanto quanto um cappuccino). por outro lado, a almofada que tenho por cá, e o facto de o meu apartamento não ter uma persiana (só uma cortina que deixa passar alguma luz), têm-me dado más noites de sono. isso e o stress que ainda tenho acumulado porque já tenho imenso trabalho para fazer.
sim, o resumo da primeira semana em mannheim é este: não consegui descansar nas minhas férias, e já estou com imenso trabalho; tenho-me sentido sozinho, mesmo que ainda só tenha passado uma semana. mas deve ser só por isso, ainda só passou uma semana. isto há-de melhorar.
hipoxia
substantivo feminino
[medicina] diminuição da concentração de oxigénio no sangue ou nos tecidos.
papel
substantivo masculino