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crónicas de mannheim #2

Pedro Simão Mendes, em 25.08.19

  sempre tive um certo interesse pela língua alemã. embora a maior parte das pessoas que conheço repudiem a sua fonética (porque a verdade é que falando alemão parece estar-se sempre zangado), e a considerem uma língua fria, eu sempre a considerei uma língua forte. claro que também acho piada ao islandês, e não gosto muito das línguas latinas para além do português. talvez tenha nascido no país errado.

  antes de vir para cá, achei por bem preparar-me. aproveitei as unidades curriculares obrigatórias do meu doutoramento e optei por fazer uma cadeira introdutória ao alemão. claro que o curso, que durou cerca de um semestre, foi muito superficial, mas, ainda assim, deu-me algumas luzes. decidi, depois disso, fazer um curso intensivo também na universidade do minho, e andei a bombar no nível a1 de alemão nas últimas duas semanas de julho. como só viajei duas semanas depois, e a minha prática da língua se cingiu a alguns minutos diários no duolingo (deviam pagar-me pela publicidade), acabei por esquecer quase tudo o que aprendi. e fogo, não aprendi assim tanto. e mesmo não sendo muito, há tanto vocabulário que simplesmente desapareceu!

  é que o alemão é uma língua difícil. são os próprios alemães que o dizem. e o que eu achei mais difícil foi a questão dos artigos (der, die, das). saber que substantivos são femininos, masculinos ou neutros é uma dor de cabeça porque não há lógica nenhuma. a única forma de os aprender é decorando o substantivo com o respectivo artigo. claro que eu só aprendi o básico dos básicos, e certamente a gramática que poderei vir a aprender será pior do que isto. muito pior.

  de qualquer das formas, não tive muita dificuldade com a língua aqui em mannheim (ou mesmo nos três dias que estive em frankfurt), porque a maior parte das pessoas fala inglês (sobretudo os jovens). no meu "acolhimento", o welcome center da universidade de mannheim tratou de tudo, e mostrou-se sempre disponível para me ajudar no que precise. aliás, foram preparando o acolhimento e outros detalhes desde que souberam que viria para cá, em novembro do ano passado. e fazem este acompanhamento para todos os alunos e convidados internacionais. estes alemães não brincam em serviço. claro que quando vamos ao supermercado, as coisas já não são bem assim... apanhamos gente mais velha que não aprendeu inglês, e a coisa torna-se complicada.

  a propósito disso, tive uma situação (agora) engraçada que me deixou ligeiramente em pânico na altura. no primeiro dia que fiquei cá sozinho, já depois de ter tido uma reunião na universidade, decidi fazer mais algumas compras para o apartamento, nomeadamente de produtos de limpeza. fui a um supermercado em hora de ponta (por volta das seis da tarde). e esse foi o meu erro. aqui, os/as caixas já são rápidos com pouco movimento, mas quando há muita gente, tornam-se nos sonic das superfícies comerciais. sabem como o minipreço tem aquele sistema de atender duas pessoas ao mesmo tempo? (caso a primeira ainda esteja a colocar as compras no saco, atende-se logo uma segunda pessoa, ficando com duas compras separadas em simultâneo) pois, eu achava que aquele supermercado funcionava de forma igual, porque a senhora a seguir a mim estava a pagar as compras enquanto eu ainda ensacava as minhas, sem as ter pago. essa senhora foi embora, e eu tive espaço para me aproximar do terminal multibanco para pagar. a senhora da caixa passa-se e pergunta, em alemão, o que estou a fazer. eu pergunto se ela fala inglês e ela responde "a little". tento explicar que quero pagar aqueles detergentes. pelos vistos, a senhora cheia de pressa que ia a seguir a mim, pagou as minhas compras, e foi-se embora sem o talão. eu paguei as minhas compras novamente (depois da senhora gritar algumas coisas em alemão, e dizer em inglês que nós é que temos de dividir as compras no tapete, porque ela não sabe onde terminam). a situação foi tão desconfortável, que fiquei a tremelicar das mãos.

  agora, os desafios com a língua são outros. preciso de palavras alemãs para os meus estudos. quero controlar algumas variáveis e manipular outras, como fiz com as palavras portuguesas que utilizei nos meus estudos em portugal. o problema é que as bases de palavras que contêm valores para essas variáveis não contêm palavras raras o suficiente (a frequência das palavras é a principal variável de interesse nos meus estudos). e como eu não sei bem se aquelas palavras soam suficientemente raras ou não, estou lixado. possivelmente terei de realizar um estudo piloto para validar palavras, o que me queimará alguns potenciais participantes e tempo útil de recolhas.

  termino esta crónica com um verso de b fachada: "não estou cansado, estou fodido". embora também esteja cansado, confesso.

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