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crónicas de Mannheim #8

Pedro Simão Mendes, em 25.10.19

   eu gosto muito de água e de nadar. natação é talvez o único desporto que gosto de praticar. tenho, aliás, um conto escrito sobre isso. antes de vir para a alemanha, cancelei o meu contrato no ginásio onde nadava, e fiquei a pensar que não nadaria durante quatro meses. de qualquer forma, e porque gosto de estar prevenido, acabei por trazer o equipamento para o caso de poder vir a nadar em piscinas germânicas. efectivamente, há coisa de duas semanas (embora andasse a estudar o assunto mais ou menos desde que aqui cheguei), fui à piscina nadar. repeti a proeza a semana passada também. posso claramente dizer que valeu a pena, porque o stress acumulado estava (e ainda está) a dar cabo de mim.

   sobre a piscina alemã (ou pelo menos esta em particular), há também algumas diferenças que merecem ser partilhadas. logo a entrada dos balneários foi estranha: havia apenas cabines para nos mudarmos, e que davam acesso aos cacifos, numa zona partilhada por homens e mulheres. só depois, para o acesso à piscina, passamos pela casa-de-banho masculina (ou feminina), onde estão também os chuveiros. ali há duas piscinas (como já tinha visto no site da cidade - aqui os websites estão actualizados!), uma mais pequena com água mais quente (onde também há hidroginástica de vez em quando), e uma semi olímpica, com 25m de comprimento e pranchas para mergulhos. para minha surpresa, quase ninguém usava touca: só mesmo quem estava na única pista para "nado rápido". o facto de haver só uma pista para nadar "a sério" faz com que quase toda a área da piscina seja um caos onde há velhinhas a nadar de bruços muito calmamente, crianças a saltar de um lado para o outro, e vários nadadores que quase chocam uns contra os outros. devem imaginar que fica (quase) impossível nadar-se de costas. na última semana, depois de nadar um pouco, vi que há pessoas a fazer hidroginástica na outra piscina. velhotas sem touca aos saltinhos na água, de óculos (de visão, não de piscina), brincos, e colares. não me pareceu muito higiénico. são pormenores engraçados que dão que pensar e talvez fiquem na memória.

   também no último fim-de-semana me aconteceu algo memorável. primeiro, um choque mental de que o tempo passa efectivamente a voar: duas das pessoas mais importantes na minha vida escolheram o dia 19 de outubro para celebrar o seu compromisso de amor. a minha irmã e o meu cunhado casaram há seis anos, o que, olhando para trás, parece uma vida que passou num ápice. também nesse dia, depois de ter esperado horas por uma chamada de skype que não chegou a acontecer (apesar da insistência da pessoa semanas antes), dou por mim a lidar uma inundação na casa-de-banho do apartamento durante a madrugada.

   começou levemente, quando me deparei com um tapete molhado na casa-de-banho enquanto me preparava para dormir, já depois da uma da manhã. no entanto, havia um barulho estranho (soava a uma torneira aberta) vindo da parede, que horas antes confundira com o som da chuva. fiquei preocupado, e acabei por ir confirmando várias vezes que não havia água a escorrer pela parede, e a tentar perceber de onde viria. comecei a entrar em pânico quando, mais tarde, a quantidade de água no chão aumentou significativamente. decidi que era melhor reagir, não fosse a água fazer demasiados danos durante a noite. fui ao handbook da guesthouse (onde estou alojado), mas os contactos eram todas para horas em que o welcome center está aberto. fui, então, verificar o aviso sobre emergências que tenho afixado na porta do quarto: 112 ou, telefonar para um número que está disponível 24/7, que pertencia aos seguranças da universidade. tentei esse número, com e sem indicativo - não atribuído. entretanto, a casa-de-banho começava a ficar inundada. decidi tentar ligar ao italiano que conhecera semanas antes, e a uma colega aqui do PhD. nenhum deles atendeu, o que é compreensível quando se liga a alguém às duas da manhã. enviei uma mensagem para o grupo de whatsapp dos alunos do PhD, a ver se alguém estaria acordado, e tive sorte. sugeriram confirmar se o número não era uma extensão da universidade (e efectivamente era). consegui marcar o número completo, mas três vezes ninguém me atendeu. decidi ligar o 112. percebi que a pessoa estava cansada e aborrecida quando atendeu, mas lá registou a ocorrência e o endereço (que não confirmou), e disse para aguardar na rua, que os bombeiros estariam a caminho. como falámos em inglês, alguma confusão pode ter surgido: o senhor registou N2 em vez de M2, e traduziu "thirteen" como "vierzehn". isso fez com que os bombeiros não só demorassem, mas também a polícia veio primeiro para confirmar que efectivamente havia emergência, sendo que me disseram que tinha dado a morada errada. a vantagem foi que um dos polícias falava muito bem inglês, e havia também um bombeiro que o fazia razoavelmente. tentaram perceber porque não houve ninguém da universidade (ou da gestão do condomínio, neste caso, guesthouse) a atender. a polícia acabou por tentar ligar com os seguranças da universidade utilizando o telefone que tenho no quarto (pelo meu entender, aquilo não funcionava, e até me esquecera da sua existência), mas também não atenderam. entretanto, os bombeiros descobriram que a água vinha da base do chuveiro, tiraram uma tampa de lá (o que inundou por completo a casa-de-banho), e sugeriram que tinha sido águas acumuladas na base do chuveiro que fizeram com que um cano ali rebentasse. não me convenceram, e tentei falar-lhes do barulho na parede. disseram que era só aquilo, que limpasse o chão e não usasse o chuveiro, que alguém no dia seguinte de manhã iria tratar do assunto. os polícias tentaram ver possíveis estragos no apartamento de baixo (onde, vim a saber mais tarde, um senhor vivia só durante a semana), gritando polizei! muito alto, enquanto batiam fortemente contra a porta (ainda era de madrugada). parecia uma cena do rex, ou assim. nisto, os seguranças ligam para o telefone do meu apartamento, e é o bombeiro a atender. passados uns minutos, eles aparecem aqui também. insisto no barulho da parede, mas dizem que não é nada, que é o extractor do ar a funcionar.

   comecei a limpar o chão com as minhas toalhas, eram já quatro da manhã (ou já passava, não sei muito bem) e fiquei naquilo uma meia hora, pelo menos. no início a água ia desaparecendo, mas quando me aproximava da origem da água, comecei a reparar que a água, por mais que passasse lá as toalhas, não desaparecia. comecei a perceber que o problema não ficara resolvido. voltei a ligar aos seguranças, mas surgiu outro problema: eles quase não falavam inglês, e eu não falo alemão. foda-se. eles lá apareceram no apartamento, munidos do google tradutor, e tentaram ajudar-me. perceberam que efectivamente a inundação era grave (nesta fase só consegui colocar as toalhas à porta da casa-de-banho para formar um dique que impedisse a água de avançar muito para a entrada), e percebi que eles também acharam grave porque sheisse foi a palavra mais usada durante a noite. disseram que o problema maior era, para além de ser madrugada, ser domingo: não haveria ninguém disponível para fazer o que quer que fosse. e eu só queria que fechassem a água do apartamento, que parassem aquele barulho e acabassem com a origem do problema (aliás, tinha pedido aos bombeiros que o fizessem também). o problema é que parece que só o administrador (gestor do condomínio) poderia fazer isso. a única torneira do género no apartamento não funcionava, e não havia nada no exterior que indicasse ser a torneira do fornecimento da água. os seguranças disseram que aquilo não era da sua competência. ligaram ao seu patrão, e insistiram na gravidade do problema. o senhor disse-lhes que viria ao apartamento com algum técnico naquele momento. nisto, o tempo foi passando, os seguranças saem, e o senhor chega. são cerca das cinco da manhã. o senhor trouxe um velhote que era electricista (não picheleiro), mas foi esse velhote que teve a decência de ir à cave do prédio procurar a torneira que fechava a água de todo o apartamento. fiquei-lhe muito grato, embora a barreira linguística não o tenha deixado perceber. o técnico chegou cheio de energia, dizendo, com um sorriso, guten morgen e eu pensei foda-se, ainda nem dormi. o senhor lá examinou a situação, fez um buraco na parede (pelo que percebi, sem a autorização da administração), e percebeu que não resolveria o problema sem as ferramentas e peças adequados, algo que só poderia acontecer a partir de segunda-feira porque, lá está, era domingo e ninguém faz um piço ao domingo. nisto, o chefe da segurança, estava a tentar arranjar-me outro apartamento para eu ficar, e estava a tentar obter o número de telemóvel da administração da guesthouse ou do welcome center (sem sucesso, acho). pelas seis da manhã, todos saíram (o picheleiro limpou-me o chão da casa-de-banho, o que foi fixe), e o chefe da segurança ficou de me ligar para me informar do possível apartamento. a casa-de-banho ficou inutilizável.

   no dia seguinte, o italiano deixou-me utilizar a wc dele e tomar banho lá, e mais tarde acabei por ir para o escritório, onde teria casa-de-banho disponível para usar. um fim-de-semana que foi mais um pesadelo. é que, como vos disse, gosto muito de água. mas não a escorrer pelas paredes e invadindo o chão da casa-de-banho. só na segunda-feira o responsável do welcome center entra em contacto comigo, dando-me a chave para outro apartamento que poderei utilizar até sexta (hoje). utilizei-o basicamente só para usar a casa-de-banho e para cozinhar. também só hoje (depois de algumas visitas durante a semana) é que alguém vai fazer a intervenção na casa-de-banho do meu apartamento. o apartamento de baixo ficou meio destruído, e vai sofrer intervenções enormes (inclusive novas pinturas), o que vai demorar algumas semanas (o senhor até vai sair de lá). o meu, com sorte, ficará operacional hoje. caso contrário, dar-me-ão um quarto de hotel para o fim-de-semana. depois de ter água no apartamento (mesmo que a reparação não esteja completa, como ainda ter um buraco na parede, ou assim), é suposto ficar aqui só umas semanas (para eles poderem terminar as obras sem me incomodar). propuseram que me mudasse para outro apartamento que terão disponível em novembro, durante mais 3 semanas, e depois que me mudasse para outro no final de novembro, até ao final da minha estadia. isto porque têm sempre mais hóspedes a chegar, hóspedes que também terão contractos de arrendamento para esses respectivos apartamentos e, embora chato, eu percebo a complicação em gerir tudo isto. bom, vamos lá ver como a situação se resolve. eu, entretanto, vou trabalhar.

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às 07:52



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