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uma vaga ideia de ti

Pedro Simão Mendes, em 27.12.19

imaginei-te

ontem à noite

deitado a meu lado

abracei a almofada achando que eras tu

e percorri com uma mão os pelos das minhas pernas

sonhando que era teu peito que tocava

vi-te na minha imaginação e, juro, senti-te tão perto

tentei lembrar o teu cheiro

mas não pude

não me lembro já qual o teu cheiro

e tive tanto medo que te pudesse esquecer

por sorte ainda guardo o nosso retrato

ali ao pé da cama

só assim me vou lembrando das feições da tua face

e dos laivos verdes que trazes nos olhos

que se não os tivesse – o retrato

e a internet –

temo que a memória me falhasse

e ficasse todo este amor

só para uma vaga ideia de ti.

 

escrito a 10.10.2019

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às 00:32

crónicas de mannheim #12

Pedro Simão Mendes, em 17.12.19

   esta é a última crónica desta aventura. começo a escrevê-la já longe de mannheim, prestes a embarcar no vôo para voltar a portugal, no aeroporto de frankfurt.

   as últimas semanas foram cheias de altos e baixos emocionais, com mistos de tristeza e alegria, alívio e stress. depois de re-submeter o meu artigo, o meu ritmo de trabalho alentou-se, e o cansaço fez-se sentir: não conseguia avançar as tarefas que tinha para fazer. por isso mesmo, não consegui finalizar tudo o que queria antes de deixar mannheim. mas ninguém morreu por causa disso. ainda assim, consegui criar um mini projecto para me candidatar a um financiamento espanhol, que foi o deadline mais stressante desta altura. não tenho muita esperança de o conseguir.

finalmente, na última terça-feira, ele chegou! depois de o seu vôo se atrasar, e ele perder o comboio por 2 minutos (pela primeira vez em toda a história, um comboio da DB não se atrasou), o seu segundo comboio atrasou cerca de uma hora. custou, mas finalmente pudemos matar as saudades. nesse dia, depois de descansarmos um pouco, visitámos o mercado de natal e, além das típicas wurst mit brötchen, provámos também o delicioso glühwein. o frio, contudo, fazia gelar a cara e as mãos (mesmo com luvas) e, fomos para casa cedo.

   no dia seguinte, tivemos um almoço com a minha orientadora num restaurante japonês, que serviu como uma despedida. ofereci-lhe fidalguinhos, que ele trouxe consigo. a tarde dessa quarta-feira foi ocupada a fazer aletria (que tinha comprado quando fui a estugarda) para a festa de natal do departamento que aconteceria nessa noite. nessa festa, que se tornou o maior tédio de sempre devido a uma espécie de quiz/palestra sobre psicologia cognitiva exclusivamente em alemão, a equipa que trabalhou comigo ofereceu-me um livro e um postal como presente de despedida. esta também foi a festa em que me despedi da maior parte dos amigos que fiz em mannheim.

  no dia seguinte, voltei a reunir uma última vez com a minha orientadora, para orientar o trabalho que se avizinha (provavelmente em janeiro), e depois fui com ele a heidelberg. visitámos o mercado de natal, e o castelo em ruínas, que tem um barril gigantesco, e um museu da farmácia. voltámos a comer uma salsicha num pão e a beber vinho quente, mas dei-lhe a provar as kartoffeln puffer/reibekuchen com molho de maçã. voltámos cedo para casa por causa do frio e porque estávamos ambos doentes (ele a melhorar, eu a piorar).

   a sexta-feira 13 foi para finalizar a lista de presentes/lembranças que comecei ainda em novembro. basicamente, foi garantir que não me esquecia de nada nem de ninguém. à noite, encontrámo-nos com o italiano que conheci para uma bebida de despedida. finalmente, no sábado, fomos tomar o pequeno-almoço com mais uns amigos, entregar mais uns fidalguinhos, e terminar as compras. à noite, houve uma festa de despedida com quem pôde ver-me mais uma vez. no meio da conversa, surgiu o cenário negro que rondava o hotel em que ficaríamos na noite seguinte, em frankfurt: perto do red district, a zona de prostituição e da droga. ficámos um pouco assustados. também nesta noite, fiquei febril. parece que o meu sistema imunitário reagiu ao stress da viagem.

   depois da luta contra fazer as malas e cumprir os limites de peso (talvez tenha comprado demasiadas lembranças), o domingo, último dia em mannheim, ficou marcado pela última ida ao gabinete, para buscar uma carta importante (documento que prova que estive lá a trabalhar). panicámos com o facto de o nosso comboio ter sido cancelado, mas ficámos mais calmos quando percebemos que poderíamos utilizar outro qualquer. a chegada a frankfurt foi tranquila, e a zona do hotel não parecia tão má, ao chegar. mas eram apenas cinco da tarde. depois de jantar no mercado de natal de frankfurt, voltamos para o hotel, para descansar. durante a noite percebemos o porquê da zona ser tão má: pessoas a gritar, drogados e polícia, e o prédio em frente era um estabelecimento de alterne. felizmente, tudo correu bem.

   ontem, deixámos as malas no hotel de uma amiga que está a trabalhar em frankfurt, e fomos dar uma volta. o meu estado adoentado não me deixou ficar muito animado, mas o dia foi mais ou menos bem passado. finalmente na estação principal para apanhar o comboio para o aeroporto, panicámos porque as informações acerca dos comboios não batiam certo. afinal, estava só atrasado, e correu tudo bem. já no aeroporto, tinha peso a mais na mala, que deixaram passar. o embarque atrasou 15 minutos, e o vôo atrasou mais de meia hora. chegámos tarde e cansados ao porto. os meus pais esperavam-nos, e levaram-no a casa. eu voltei para a casa dos meus pais. voltei ao sítio frio e húmido de que fugi há mais de um ano. e voltei a dormir sozinho. ao menos em mannheim, dormia quentinho. acho que vou ter saudades.

   acho mesmo que vou ter saudades. o balanço que faço destes quatro meses é muito, muito positivo. mas também é bom estar de volta. só não faço ideia o que o futuro próximo me reserva. e, para já, está tudo bem.

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às 20:59

crónicas de mannheim #11

Pedro Simão Mendes, em 03.12.19

   saio de casa e ponho os auscultadores nos ouvidos. está frio, mas de manhã gosto sempre de sentir o frio nas mãos e na cara. escuto pilot dos fanfarlo, numa viagem sonora ao passado, e vejo uma senhora de pelo menos setenta anos a andar de bicicleta enquanto passo em frente ao palácio de mannheim. penso que é algo que nunca veria em portugal. caminho no frio de uma manhã de dezembro por este trajecto que já me é tão familiar. pela primeira vez em algum tempo, sinto-me bem.

   faltam apenas duas semanas para voltar a portugal e, com o fim da minha estadia em mannheim a aproximar-se rapidamente (as últimas semanas têm passado a voar), urge terminar todas as tarefas pendentes. a verdade é que nas últimas semanas não tenho sido muito produtivo, muito provavelmente pelo cansaço acumulado ao longo do último ano. tenho, aliás, andado ansioso, agitado, e com uma dor intensa nas costas. e tudo isto me tem impedido de escrever em condições. desde que estou em mannheim, só consegui escrever sete poemas. e, pior, a minha escrita académica também sofre. e se há quem considere que escrevo melhor poesia do que artigos, imaginem como vai esta tarefa.

   ainda a caminhar, o leitor de música apresenta-me agora setembro, de b fachada. e eu penso que ainda ontem era setembro, e o final do ano já está a chegar. a certa altura chegam-me ao ouvido os versos "escrevi-te uma carta de coisas de amar; se não for entregue, não me vou desculpar", e eu lembro-me da carta que ele me enviou, mas que nunca cheguei a receber. deu para um poema, pelo menos.

   exceptuando uma ida ao international film festival mannheim-heidelberg com a aluna de doutoramento mexicana, umas idas à piscina, e uma ou outra saída com o pessoal de doutoramento (incluindo uma sessão de cinema nocturna no nosso local de trabalho), não há muito que relatar sobre o último mês, que tem sido focado sobretudo no trabalho. como, aliás, serão os próximos dias também.

   hoje visitarei os mercados de natal e na quinta-feira tenho a festa de natal no welcome center. depois, é só esperar ansiosamente pela chegada dele. e para isso, já só faltam sete dias.

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às 09:40



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