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da quarentena em berlim - dias 5 e 6

Pedro Simão Mendes, em 31.07.21

   sexta-feira, quinto dia desta aborrecida quarentena. a rotina usual dá início ao dia: acordar cedo, banho, pequeno-almoço. série, série, encomendar almoço, série e almoço. depois do almoço, algo diferente. fugi desta rotina com uma reunião zoom acerca do projeto em que participarei em setembro. depois de hora e meia, volto à rotina, mirando a vida exterior pela janela. também converso com ele. encomendo o jantar, janto, e deito-me tarde. amanhã é o último dia da quarentena.

   sábado, último dia desta fatigante quarentena. a mesma rotina, tal como os outros dias. a diferença são os planos de ir fazer o teste covid. enquanto não tiver o teste negativo no meu email, não consigo fazer planos. depois do almoço, lá fui eu fazer o teste antigénio que custou 25€ (confesso que, antes de vir, pensava que fosse muito mais caro). depois do teste feito, voltei ao hotel, esperando pelo resultado que seria enviado por email em cerca de vinte minutos. recebido o resultado negativo (era muito azar ter apanhado o vírus durante uma quarentena), fiz upload do ficheiro para a plataforma que segue os visitantes, para poder interromper a quarentena sem problema. depois, fui dar uma volta.

   como não tinha feito planos, acabei por vaguear um pouco sem rumo, até decidir visitar à alexanderplatz para tentar recriar uma foto que tirei há quatro anos atrás quando visitei berlim pela primeira vez. sem sucesso, porque não havia pássaros esvoaçando, e porque a câmara do meu telemóvel não consegue focar em condições. depois de passar num mcdonald's para comprar um sundae, e já cansado de andar (os meus queridos pés já não estão habituados caminhadas longas), voltei para o hotel.

   decidi fazer planos para o dia de amanhã que, sendo o primeiro domingo do mês, permite entrada gratuita em diversos museus da cidade. infelizmente, por causa da covid, era necessário fazer reserva, e os dois museus que me interessavam já não têm vagas. por isso, deverei apenas visitar o grande parte da cidade, caso não chova. sim, porque as previsões meteorológicas davam céu muito nublado/chuva para os próximos dias. é, agora que terminei a quarentena, o sol vai desaparecer. mesmo a tempo da summer school. obrigado, alterações climáticas.

   amanhã terei de mudar de hotel, e a summer school arrancará ao final do dia com um jantar para conhecer os participantes. vamos lá ver como corre.

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às 17:55

da quarentena em berlim - dia 4

Pedro Simão Mendes, em 29.07.21

   na quarentena, os dias repentem-se ao expoente da loucura. o dia de hoje foi mais do mesmo. acordei cedo, apesar de me ter deitado tarde, e após um banho, fui buscar o pequeno almoço. desta vez tive ajuda para trazer as coisas para cima: o staff do hotel a marcar pontos. quando terminei de comer, tentei arranjar um esquema para levar tudo para baixo de uma só vez. infelizmente, o elevador deixou de funcionar. acabei por telefonar à recepção do hotel, e disseram-me para simplesmente deixar a loiça no corredor. assim fiz.

   de manhã estive a ver série. obrigado netflix pelas séries originais. depois pedi o almoço que chegou mais cedo do que esperava, e o senhor até me veio trazer a pizza à porta do quarto. ups. não me queixei. depois de comer de mais, e de continuar a ver série pela tarde, fiquei demasiado aborrecido. fiquei bastante tempo a olhar a vida lá em baixo na rua, sob o sol fresco que brilhou hoje em berlim. nem isso me distraiu.

   a certa altura, dei por mim a trabalhar. voltei a pegar num artigo que tinha parado desde novembro ou janeiro, e distraí-me a trabalhar nele até mais ou menos a hora de jantar. encomendar comida mais uma vez, e ficar demasiado cheio, repensando as minhas escolhas para as refeições desta semana. depois de jantar, estive a forçar-me a escrever e, já depois de uma conversa com ele, consegui terminar um pequeno haiku e, logo a seguir, vim escrever isto. ainda me resta dia e meio de quarentena.

   já só me resta dia e meio de quarentena.

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às 20:49

#957

Pedro Simão Mendes, em 29.07.21

 

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às 11:39

da quarentena em berlim - dias 2 e 3

Pedro Simão Mendes, em 28.07.21

   o segundo dia de quarentena começou cedo, por causa do calor e da necessidade de abrir as janelas: arejar o quarto, mas inundá-lo de luz, o que me impediu de continuar o sono. depois, continuou com um banho seguido de um bom pequeno-almoço que, por treze euros, tinha de valer alguma coisa. ao estilo alemão, tinha um ovo cozido, pepino, tomate, vários tipos de queijo e enchidos, e mil e uma outras coisas para se pôr no pão, um muffin, iogurte e café com aquelas natas muito famosas na europa central. dessas, são muitas as coisas que eu não gosto e não consigo comer. de qualquer das formas, foi genericamente bom e ainda consegui guardar alguma comida para o meio da tarde. tive de ir buscar o pequeno-almoço ao restaurante, e levá-lo para o quarto, para assegurar a quarentena. um pouco chato, mas também é das poucas alturas em que saio do quarto.

   a manhã foi passada a agendar um teste covid para sábado (5 dias depois da minha chegada), a tentar perceber o que poderia fazer durante a quarentena, e a ver série. ver série(s) é efetivamente a atividade que me vai ocupando mais o tempo e distraindo de estar fechado. também fui olhando pela janela, vendo a atribulada vida no centro de uma cidade gigante como berlim. fez calor também neste dia (aguentou-se com a ventoinha ligada), e decidir o que iria comer foi (e ainda é) um martírio.

   sou demasiado esquisito. para além disso, com os sintomas do ibs a arruinarem-me a vida, torna a tarefa mais difícil. por outro lado, a oferta é muito no mesmo género de comida: asiática (e aqui, vietnamita, japonesa, chinesa, tailandesa, indiana, etc.), americana (i.e., fast food), turca, paquistanesa, grega, mexicana, italiana (sobretudo pizzas), de fusão, saudável, fit, vegetariana, orgânica e biológica. mas nada versátil como em portugal. e tudo muito caro. perdi imenso tempo, mas acabei por usar a wolt, uma app que me deu alguns descontos nos primeiros três pedidos. gnocchi com salmão e molho de marisco. not bad.

   a tarde foi passada nas séries e na conversa à distância com ele e com uma amiga. também num jogo no telemóvel, e um pouco de exercício (saltinhos aqui pelo quarto). nada de muito produtivo, portanto. à noite conversa breve com a família e mais uma encomenda de comida. acabei por conseguir escrever algo no blog, mas nada de poesia, entretanto.

   o terceiro dia foi muito semelhante ao segundo, com séries e escolha de refeições como as decisões mais importantes do dia. já não fez tanto calor, e as conversas com amigos e família alongaram-se um pouco mais. aliás, até com o staff do hotel: uma senhora simpática que fala inglês melhor que os seus colegas foi super atenciosa comigo. contudo, comecei já a sentir o tédio a tomar conta de mim, e as impaciência e irritabilidade surgiram. faltam-me mais três dias disto. e mais refeições para escolher.

   é, assim vão os dramas do primeiro mundo.

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às 22:00

da quarentena em berlim - dia 1

Pedro Simão Mendes, em 28.07.21

   escrevo isto em retrospectiva e, em retrospectiva, a memória pode sempre falhar. considerem-se avisadas, pessoas.

   segunda-feira, dia 26 de julho de 2021, saí de casa pelas sete e meia da manhã, com os meus pais, que me levaram ao aeroporto do porto. o vôo estava agendado para as 10:10 mas, para não variar, houve um ligeiro atraso. obrigado, ryanair. os nervos associados à viagem também não faltaram, exacerbados por estarmos ainda em situação pandémica. antes de embarcar, a tripulação verificou que os passageiros tinham comprovativo de teste, vacina, ou recuperação da doença. apesar de tudo, senti-me razoavelmente protegido, e tive a sorte de ter um lugar de vago no meio de outro passageiro e eu. as pouco mais de três horas de vôo foram passadas a ver lupin, da netflix, sensivelmente 3 episódios. comi um quarto de panqueca de aveia que tinha levado comigo e cujo outro quarto comera antes de embarcar.

   ao chegar, percorri o enorme aeroporto até à estação de comboio. para minha grande surpresa, não houve controlo nenhum de teste, vacina, ou recuperação da doença. claro que preenchi com antecedência o formulário online de entrada na alemanha, e que me permitiu ter esta postura mais relaxada, e no vôo distribuíram o formulário em papel para quem não o fez online. apanhado o comboio, fui morrendo de calor até chegar à estação central de berlim. estava mesmo muito calor e, como teria de ir diretamente para o hotel, acabei por desperdiçar a oportunidade de parar nalgum restaurante (nem que fosse o mcdonald's) para comer alguma coisa. pelo caminho, vi que ninguém usava máscara na rua. apenas nos locais fechados. achei estranho, mas em termos de novos casos, a alemanha está bem melhor do que portugal. enfim.

   chegado ao hotel, paguei o quarto (com a esperança de que a organização da summer school me reembolse o valor), que fica mesmo em frente do museu de história natural. para além de central, a vista é agradável. claro que o facto de estar numa das principais avenidas, não a torna uma zona muito calma. mas o pior é mesmo a ausência de ar condicionado: os alemães não estão, regra geral, preparados para o calor.

   subi para o quarto, que fica no último piso (que óptimo para o calor!), e, antes de tomar um banho para refrescar, comi a restante panqueca, uma tangerina e nozes que tinha trazido comigo. depois, acomodei-me, e pensei em como obter comida para o jantar. obrigado internet, obrigado apps de entregas. comi comida asiática e fiquei a abarrotar. jantei cedo, e terminei a primeira temporada de lupin. primeiro dia - ou tarde - de quarentena superado com sucesso.

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às 18:00

#954 ou das actualizações #2

Pedro Simão Mendes, em 27.07.21

   há meses que estou a pensar voltar a escrever no blog, mas acabei sempre por não me dedicar a isso. a escrever, aliás. já não escrevo há algum tempo. como disse em abril, tenho andado perdido, sem saber o que fazer da vida, e a motivação falta-me. claro que, entretanto, defendi a tese e obtive o grau de doutor - sim, por extenso. sou doutor em psicologia básica, mas a sensação é a de ser doutor da mula ruça.

   seja síndrome do impostor ou não, a verdade é que tenho sorte. tenho-a tido toda a minha vida, apesar de tudo o que me vai correndo menos bem. a universidade onde leccionei no semestre passado não quis renovar o contrato (precário) comigo, já que o meu currículo não se adequava às novas necessidades deles. tudo ok, porque a experiência não foi tão positiva assim, e a ansiedade massacrava-me. agora, surgiu uma nova oportunidade, na minha opinião bastante melhor, para leccionar uma unidade curricular na universidade onde fiz o meu percurso no ensino superior. apesar de continuar na dúvida se é isto que quero fazer, é uma oportunidade para aumentar a minha experiência e o meu currículo, e isso já vale alguma coisa. e fico com mais tempo para ir pensando numa decisão mais definitiva sem passar fome por não ter salário.

   paralelamente, surgiu uma outra oportunidade, através da direção de curso da universidade onde fui professor nestes últimos meses, para integrar um projeto de intervenção para crianças do ensino básico com dificuldades de leitura. a minha função será gerir a base de dados deste projeto, que é coordenado por uma equipa também da universidade onde irei dar aulas a partir de setembro. outra oportunidade que não poderia deixar passar.

   simultaneamente, fico sem poder decidir o que fazer na minha vida pessoal. ele continua em coimbra, mas ambos sentimos já estar mais do que na hora de morarmos juntos. e fica difícil desenhar um plano. haverá a possibilidade de trabalhar voluntariamente no laboratório onde ele é comunicador de ciência, mas não há nada em concreto ainda. um pouco de precariedade para (re)adquirir conhecimentos que poderão ser úteis caso opte por seguir a carreira académica e de investigação.

   e por falar em comunicação de ciência, ele, há uns meses, sugeriu-me que me candidatasse a uma summer school sobre o tópico, organizada para ensinar alunos de doutoramento a comunicar melhor. eu candidatei-me, e fui selecionado. problema? seria em berlim e, com as incertezas da covid-19, toda a organização foi feita aos solavancos. apesar disso, decidiu-se que esta decorreria presencialmente e, com o avanço da vacinação em portugal, eu esperava poder viajar. o que eu não esperava era que o número de infetados em portugal subisse tanto e que, por isso, a alemanha colocasse o nosso país à beira-mar plantado na lista de alto risco, implicando quarentena obrigatória.

   quando entendi que a minha ida poderia estar em risco, tentei que a organização me arranjasse alternativa. resposta? infelizmente só pensaram numa organização presencial. uma vez que não estaria vacinado a tempo (apesar de múltiplos auto-agendamentos sem resposta), a única opção para não perder esta formação em comunicação de ciência seria viajar mais cedo uma semana para fazer a quarentena (que posso interromper ao quinto dia, caso teste negativo). problema disso? despesas com alojamento e alimentação que a summer school provavelmente não cobriria. mas, afinal, decidiu cobri-las. claro que só o fez na última sexta-feira, quando teria de viajar na segunda. mas pronto, boas notícias. e arranjar hotel dentro do orçamento que me aceitasse como hóspede para fazer quarentena, ou que respondesse a tempo? impossível (era sexta à tarde). felizmente, uma senhora da organização, incansável, tentou de tudo para que eu pudesse estar na summer school. até ofereceu o apartamento de um amigo onde eu poderia ficar gratuitamente! era a solução perfeita, até ao momento em que liga ao amigo e percebe que afinal não é possível (era sábado de manhã). por fim, acabou por arranjar um hotel que me aceitaria, mas cujos custos seriam assegurados por mim e, mais tarde, devolvidos. não era o cenário ideal, mas seria o possível.

   felizmente consegui reagendar o meu teste pcr sem problema e a tempo da viagem, mudar o vôo sem grandes despesas, e organizar-me sem grandes desafios. só ansiedade. e diarreias. pelos vistos tenho ibs, ou sii em português (irritable bowel syndrome/síndrome do intestino irritável). ainda tentei a fazer uma dieta (low fodmap - ou baixa em açúcares de cadeia simples) para tentar controlar os sintomas, mas não resultou muito bem: emagreci (sim, estou quase a desaparecer), e a ansiedade dos últimos dias trouxe os piores sintomas. enfim. tem de haver algo mau para equilibrar a sorte que vou tendo, não é?

   estou agora no segundo dia de quarentena em berlim. está calor e não há ar condicionado no quarto 602, no sexto e último piso deste hotel. a summer school começa no próximo domingo (ao fim do dia) noutro hotel, e só poderei participar caso o resultado do teste que farei no sábado seja negativo. tenho tomado as precauções necessários, e espero não apanhar o bicho entretanto. até porque já estou vacinado (janssen, toma única!), só que não fui a tempo de estar imunizado para a viagem, e ainda posso ficar contaminado até ao décimo quarto dia.

   por último, e refletindo sobre os últimos meses, parece que os anti depressivos estão a fazer efeito. falta agora procurar psicoterapia para ajudar a lidar com a ansiedade. essa puta.

   até já (sim, porque nem todas as horas de quarentena poderão ser ocupadas com filmes e séries).

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às 14:02

doutorado

Pedro Simão Mendes, em 06.07.21

e as andorinhas,

lá no alto,

sabem mais do mundo

do que eu.

 

escrito a 23.06.2021

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às 20:40



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