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o segundo dia de quarentena começou cedo, por causa do calor e da necessidade de abrir as janelas: arejar o quarto, mas inundá-lo de luz, o que me impediu de continuar o sono. depois, continuou com um banho seguido de um bom pequeno-almoço que, por treze euros, tinha de valer alguma coisa. ao estilo alemão, tinha um ovo cozido, pepino, tomate, vários tipos de queijo e enchidos, e mil e uma outras coisas para se pôr no pão, um muffin, iogurte e café com aquelas natas muito famosas na europa central. dessas, são muitas as coisas que eu não gosto e não consigo comer. de qualquer das formas, foi genericamente bom e ainda consegui guardar alguma comida para o meio da tarde. tive de ir buscar o pequeno-almoço ao restaurante, e levá-lo para o quarto, para assegurar a quarentena. um pouco chato, mas também é das poucas alturas em que saio do quarto.
a manhã foi passada a agendar um teste covid para sábado (5 dias depois da minha chegada), a tentar perceber o que poderia fazer durante a quarentena, e a ver série. ver série(s) é efetivamente a atividade que me vai ocupando mais o tempo e distraindo de estar fechado. também fui olhando pela janela, vendo a atribulada vida no centro de uma cidade gigante como berlim. fez calor também neste dia (aguentou-se com a ventoinha ligada), e decidir o que iria comer foi (e ainda é) um martírio.
sou demasiado esquisito. para além disso, com os sintomas do ibs a arruinarem-me a vida, torna a tarefa mais difícil. por outro lado, a oferta é muito no mesmo género de comida: asiática (e aqui, vietnamita, japonesa, chinesa, tailandesa, indiana, etc.), americana (i.e., fast food), turca, paquistanesa, grega, mexicana, italiana (sobretudo pizzas), de fusão, saudável, fit, vegetariana, orgânica e biológica. mas nada versátil como em portugal. e tudo muito caro. perdi imenso tempo, mas acabei por usar a wolt, uma app que me deu alguns descontos nos primeiros três pedidos. gnocchi com salmão e molho de marisco. not bad.
a tarde foi passada nas séries e na conversa à distância com ele e com uma amiga. também num jogo no telemóvel, e um pouco de exercício (saltinhos aqui pelo quarto). nada de muito produtivo, portanto. à noite conversa breve com a família e mais uma encomenda de comida. acabei por conseguir escrever algo no blog, mas nada de poesia, entretanto.
o terceiro dia foi muito semelhante ao segundo, com séries e escolha de refeições como as decisões mais importantes do dia. já não fez tanto calor, e as conversas com amigos e família alongaram-se um pouco mais. aliás, até com o staff do hotel: uma senhora simpática que fala inglês melhor que os seus colegas foi super atenciosa comigo. contudo, comecei já a sentir o tédio a tomar conta de mim, e as impaciência e irritabilidade surgiram. faltam-me mais três dias disto. e mais refeições para escolher.
é, assim vão os dramas do primeiro mundo.
escrevo isto em retrospectiva e, em retrospectiva, a memória pode sempre falhar. considerem-se avisadas, pessoas.
segunda-feira, dia 26 de julho de 2021, saí de casa pelas sete e meia da manhã, com os meus pais, que me levaram ao aeroporto do porto. o vôo estava agendado para as 10:10 mas, para não variar, houve um ligeiro atraso. obrigado, ryanair. os nervos associados à viagem também não faltaram, exacerbados por estarmos ainda em situação pandémica. antes de embarcar, a tripulação verificou que os passageiros tinham comprovativo de teste, vacina, ou recuperação da doença. apesar de tudo, senti-me razoavelmente protegido, e tive a sorte de ter um lugar de vago no meio de outro passageiro e eu. as pouco mais de três horas de vôo foram passadas a ver lupin, da netflix, sensivelmente 3 episódios. comi um quarto de panqueca de aveia que tinha levado comigo e cujo outro quarto comera antes de embarcar.
ao chegar, percorri o enorme aeroporto até à estação de comboio. para minha grande surpresa, não houve controlo nenhum de teste, vacina, ou recuperação da doença. claro que preenchi com antecedência o formulário online de entrada na alemanha, e que me permitiu ter esta postura mais relaxada, e no vôo distribuíram o formulário em papel para quem não o fez online. apanhado o comboio, fui morrendo de calor até chegar à estação central de berlim. estava mesmo muito calor e, como teria de ir diretamente para o hotel, acabei por desperdiçar a oportunidade de parar nalgum restaurante (nem que fosse o mcdonald's) para comer alguma coisa. pelo caminho, vi que ninguém usava máscara na rua. apenas nos locais fechados. achei estranho, mas em termos de novos casos, a alemanha está bem melhor do que portugal. enfim.
chegado ao hotel, paguei o quarto (com a esperança de que a organização da summer school me reembolse o valor), que fica mesmo em frente do museu de história natural. para além de central, a vista é agradável. claro que o facto de estar numa das principais avenidas, não a torna uma zona muito calma. mas o pior é mesmo a ausência de ar condicionado: os alemães não estão, regra geral, preparados para o calor.
subi para o quarto, que fica no último piso (que óptimo para o calor!), e, antes de tomar um banho para refrescar, comi a restante panqueca, uma tangerina e nozes que tinha trazido comigo. depois, acomodei-me, e pensei em como obter comida para o jantar. obrigado internet, obrigado apps de entregas. comi comida asiática e fiquei a abarrotar. jantei cedo, e terminei a primeira temporada de lupin. primeiro dia - ou tarde - de quarentena superado com sucesso.