Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



#962

Pedro Simão Mendes, em 27.12.21

   a leitura faz-se a custo.

   não é só dos dias cinzentos ou da imutabilidade da vida. é também devido à facilidade em me perder nas atividades mais passivas de contar histórias: as séries e os filmes. e ainda pelas cronologias virtuais das redes sociais e pelos jogos abusivamente peritos na arte do vício que me vão prendendo ao telemóvel. tudo isto me tem afastado da outrora prazerosa leitura. agora, a simples tarefa de ler um livro tornou-se árdua e morosa. mas isso não me impede de querer ter mais livros, e planear lê-los em breve. só que o breve logo se adia e se faz tarde, e não leio coisa nenhuma. ficam ali amontoadas, todas aquelas palavras, à espera que alguém lhes dê sentido.

   hoje, contudo, terminei de ler o ensaio sobre a lucidez, de josé saramago. fi-nal-men-te. comecei a lê-lo há quase um ano, depois de terminar as intermitências da morte, que li em cerca de três meses. por que demorei tanto? não sei, não é que o livro seja chato, ou eu não estivesse a gostar da obra. antes pelo contrário, adorei-a. por isso, devia sentir-me algo alegre por tê-la terminado, mas o meu pensamento foca-se, em vez disso, na delonga e no quanto  este proceso traduz a minha procrastinação crónica e a minha inabilidade para criar hábitos saudáveis ou ser organizado. obviamente, isso faz-me voltar a entrar no ciclo depressivo que já parece fazer parte da minha personalidade.

   e se a leitura se faz a custo, nem valerá a pena falar da escrita, adiada vezes sem conta, deixando as ideias guardadas na gaveta. e por isso, não darei aqui mais atenção ao meu processo de escrita, tão díspar de mês a mês, do que estas duas sucintas frases. ainda quanto à leitura, fascina-me a minha memória que, depois de semanas de interregno, retoma o fio condutor da história como se nunca a sua leitura tivesse cessado. claro que de vez em quando lá tenho de folhear as páginas anterior para melhor me contextualizar, mas logo vem toda a informação, guardada nos confins sabe-se lá de que parte do meu cérebro - talvez do hipocampo - e trazida por umas quaisquer sinapses dedicadas aos conteúdos literários de saramago. também vos acontece?

   enfim, tão perto do final do ano, naquela altura em que se estabelecem metas mais ou menos (ir)realistas, fará sentido prometer-me ler mais do que um livro no próximo ano? ou devo resignar-me ao meu ocioso deferimento crónico? talvez precise trabalhar estas questões em terapia, aquela solução que - adivinhem - continuo a adiar.

Autoria e outros dados (tags, etc)

às 13:13



mensagens

pesquisar

  Pesquisar no Blog