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quis escrever sobre lisboa. depois, quis ter escrito sobre lisboa. entretanto, o tempo foi passando e, volvidos nove meses, fará ainda sentido escrever sobre lisboa?
em setembro de 2022 tinha tudo idealizado: discursar sobre a minha (des)adaptação à capital ao longo dos meses à medida que as coisas fossem acontecendo. o título desses posts? obviamente seriam as "crónicas de lisboa". hoje, que decidi voltar ao tópico da (já não tão) nova vida na capital, reparo que havia já escrito cinco crónicas de lisboa, lá atrás quando ele cá viveu e eu o vinha visitar. desde então muita coisa aconteceu e eu nunca mais escrevi sobre lisboa. portanto, faz-me sentido que agora, escrevendo acerca da vida na capital, o faça de forma revisitada. mais importante, vou tentar fazê-lo de forma resumida.
antes disso, contudo, há que fornecer algum contexto. a propósito, há uns dias, num momento a minha família, a minha irmã comentou que eu, quando era criança, tinha de contar todos os detalhes de uma história, acontecimento ou piada. ele confirmou-lhe que hoje ainda sou assim. efetivamente, sempre achei que a contextualização e o detalhe dos acontecimentos devem ser preservados, para mantermos o seu rigor e não adulterarmos a informação de forma alguma. este parágrafo introdutório serve, portanto, para me desafiar a saltar por cima de todos os detalhes e lançar apenas os traços gerais desde a minha mudança para lisboa. sobretudo quando o faço retrospetivamente e considerando que as memórias estão sujeitas a alterações sempre que dela recuperamos alguma informação.
mudei-me ainda em agosto e comecei a trabalhar logo a 1 de setembro. ele veio comigo, claro, mas por questões de saúde teve de voltar a braga antes da mudança definitiva na semana seguinte. a sorte de termos encontrado um apartamento numa zona relativamente razoável e a preço ainda aceitável (750€ por um t1 nunca deveria ser aceitável, mas considere-se o panorama imobiliário ainda em vigor) ajudou a que a mudança decorresse de forma fluída - um obrigado aos meus pais pela ajuda no transporte de toda a tralha vinda de braga. o primeiro mês foi dedicado à adaptação a uma nova rotina. isto inclui um trabalho de oito horas bem controladas, implicando estar nove no local do trabalho e uma extra para transportes. também no primeiro mês, veio a adesão ao ginásio para tentar mantermo-nos ativos. o desafio? evitar as horas de ponta implica ir ao ginásio de manhã cedo, antes ainda de ir para o trabalho. também houve idas a braga: em setembro para um casamento, em outubro para o meu aniversário, em novembro para o aniversário dos sobrinhos, e em dezembro para o natal. por diversos motivos, - glúten incluído - (re)visitar a família é sempre uma dose adicional de stress, mas no fundo acaba por valer a pena.
entrámos em 2023 com o pezinho na capital, e seguiram-se menos visitas a braga, porque o cansaço da viagem começava a pesar e a não justificar idas de apenas um fim de semana. ele, contudo, continuou a fazer visitas extra para consultas médicas. a exceção foi março pelo aniversário do meu pai. e só lá voltei agora em junho, porque tivemos férias e lá ficámos uma semana. por falar em férias, em abril fomos a málaga e visitámos granada também. pelo meio destes últimos meses fomos ver alt-j ao vivo, a bumba na fofinha no coliseu, ganhei bilhetes para um concerto de tomara, e fomos ver também glockenwise. também experimentámos muitos locais com certificação pela associação portuguesa de celíacos (incluindo ter ganho um passatempo para um jantar), e ainda fomos algumas vezes à praia. mas isto - reparo agora - não é bem escrever sobre lisboa. é a vida que, por acaso, se deu em lisboa.
então, o que hei-de dizer sobre lisboa? bom, tenho ainda mixed feelings, quase uma dissonância cognitiva que me leva a gostar de cá estar, mas uma sensação global algo negativa da qual não me consigo livrar. a verdade é que a rotina do trabalho não nos tem deixado energia, tempo ou vontade para explorar a cidade e tudo o que tem para oferecer. de uma forma geral, é impossível dedicarmo-nos a outras coisas - ainda tenho uns artigos por escrever. continuo a achar que (e o que aprendi em psicologia reforça esta ideia), se um trabalho a tempo inteiro fosse de seis horas diárias, as pessoas seriam mais produtivas e - mais importante - mais felizes, porque teriam tempo para se dedicar a outras coisas para além do trabalho (vulgo, "viver").
sendo franco, lisboa é onde tudo acontece. talvez, por um lado, porque quem organiza as coisas se esquece de que portugal é mais do que lisboa (aquela coisa dos coldplay em coimbra foi uma exceção, não?); por outro, porque efetivamente o distrito de lisboa alberga muita, muita gente. e apesar de isso não ser necessariamente mau, esse é, para mim, um ponto negativo: muita, muita gente. é muita gente na rua, é muita gente em carros, é muita gente no metro... é demasiada gente. mas também é muita gente gira - sobretudo com a chegada da primavera - a passear nas ruas. só que com demasiada gente, fica difícil criar novas amizades (já que as grandes ficaram em braga - ou na alemanha), mesmo com as mil e uma apps que existem para esse fim.
e depois não é só o número de pessoas. é o seu ritmo. o ritmo a que as pessoas funcionam aqui é alucinante. estão sempre a correr, sempre com pressa, sempre com uma tensão enorme, em todo o lado. e este ritmo frenético é, a meu ver, o ritmo de lisboa. e é contagioso. a dada altura, reparei que chego ao trabalho a suar. foda-se. não há necessidade disto. talvez ingénuo, gostava que nós, humanos, voltássemos a ser capazes de recuperar o fôlego e reaprendêssemos a viver desacelerados. bom, talvez um dia.
das coisas boas, destaco a oferta de transportes, sobretudo o metro (sim, mesmo com os atrasos, as obras e tudo) e os espaços verdes. é que há parques (não só jardinzitos) em todo o lado. é possível ver verde mesmo em grandes avenidas e isso é fantástico. nisto dá 5 a 0 a braga. o trabalho - de uma forma muito geral - tem sido positivo. é interessante dar a conhecer a ciência que é feita em psicologia. sinto um pouco de pena de não estar a fazer investigação, mas a vida dá muitas voltas e, por mais planos que se façam, ninguém sabe o dia de amanhã. para já, estou a fazer um curso de inovação e criatividade digital, para tentar colmatar lacunas na área da comunicação. a ver se me abre algumas portas.
para já, estamos em junho. é santo antónio. já aprendi que isso significa muita, muita gente. demasiada gente. e eu ainda tenho uma semana de férias. vou tentar aproveitá-la.