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os primeiros dias de setembro chegaram, parece, sem aviso prévio. como se nos tivéssemos esquecido de virar as folhas do calendário e estivéssemos ainda presos, algures em junho, no crescer gradual dos dias entre jardins verdejantes que se fundem com o betão cinzento da cidade.
setembro chegou e trouxe consigo a chuva miúda do outono. o verão ainda nem acabou mas, neste recomeço de ciclos, esta melancolia cadente tão característica do encurtar dos dias chegou mais cedo. é a noite a querer tomar o lugar da luz, talvez para esconder a nudez das árvores e encobrir a decadência das folhas que agora caem.
e embora eu adore o outono e a sua misantropia, hoje senti uma nostalgia pelos verões da minha infância, uma saudade das férias grandes. para onde foram as férias grandes e por que razão os adultos não as podem gozar? sim, eu sei que é preciso produzir, mas sinto que os adultos também precisam de férias grandes. e até nem têm de ser no verão, já que haveria pessoas que prefeririam ter férias grandes no inverno, por exemplo.
mas nenhumas férias grandes seriam tão boas como as que se tinha no verão da nossa infância. o canto das cigarras e o chapinhar da água como sons de fundo nas tardes passadas no rio. o andar de bicicleta com os amigos nos fins-de-tarde infindáveis ou as noites passadas a ver o céu estrelado. os domingos de praia com a família e os piqueniques tipicamente portugueses, enterrarmo-nos na areia e comer um gelado. eternizar tudo numa foto analógica, sem saber o que o rolo iria revelar. jogar game boy na viagem para casa. adormecer pelo cansaço e sem preocupações. ansiar pelo regresso à rotina, só para rever as grandes amizades que seriam para a vida toda. ansiar por setembro, depois de um verão em cheio.
e se calhar este fenómeno é só explicado pela mudança na perceção do tempo. é que três meses para uma criança de dez ou doze anos podem parecer uma eternidade, mas para um adulto passam num ápice. e, portanto, talvez as férias grandes para um adulto não tivessem nunca o mesmo sabor.
mas então, o que devemos sentir, o que devemos fazer, quando setembro chega assim, sem avisar?