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uma das coisas que me irrita mais aqui por lisboa é a estupidez humana no metro. não se enganem, irrita-me muito a estupidez humana na sua generalidade e em diversos contextos. mas, como faço uso diário deste meio de transporte já há mais de dois anos, este particular comportamento humano ganhou um lugar especial no meu top de irritações.
a verdade é que o metro de lisboa, sobretudo em horas de ponta, vai estando muito cheio. as pessoas devem ficar com medo de não poder sair na sua estação, então aglomeram-se junto das portas. sim, mesmo quando há lugares sentados que poderiam ser ocupados para desimpedir o aglutinado humano, ou nos corredores vagos junto desses bancos. até quando o metro não vai cheio este é o comportamento padrão: ficar junto à porta. e pronto, estaria tudo bem se a pessoa fosse sair na estação seguinte, ou duas estações depois de ter entrado. bom, até seria sensato se fosse dali a três estações. mas não é isso que acontece. mesmo quando as pessoas vão atravessar toda a linha de metro decidem que é melhor ficar junto da porta. não vá o diabo tecê-las e ficarem impedidas de sair...
pronto, pronto. vamos assumir que é um comportamento humano que é quase inato e é mais forte do que nós. vamos esquecer que as pessoas à nossa volta - literalmente a roçarem os seus corpos nos nossos - existem? é que quando é efetivamente o momento de sair, as pessoas impedem ainda a saída de outras porque não se mexem, ficando ali, só junto da porta. apenas depois de alguém gritar, pedindo licença para passar, é que parecem acordar, comportando-se de seguida como baratas tontas: ai, e para onde vou agora? que maçada, agora tenho de me desviar para esta pessoa conseguir sair? a minha sugestão é simples: sair também, encostando-nos à direita ou à esquerda da porta do metro, mas do lado exterior da carruagem; quando as pessoas que precisavam sair o tiverem feito, basta voltar a entrar. e também acontece o comportamento semelhante, mas para entrar. são as pessoas que, com pressa de entrar no metro, não deixam os passageiros saírem. mais uma vez, a ideia é encostarmo-nos à direita e à esquerda da porta e deixar toda a gente sair; depois entramos. um comportamento que pareceria super simples e um mero ato de civismo é, hoje, atrevo-me a dizer, uma conquista digna de nomeação ao prémio nobel da paz pela humanidade que carrega.
talvez na origem do problema, a meu ver, esteja um egocentrismo que impede a pessoa de olhar em redor e perceber que há outros à sua volta, para além de si. parece-me algo semelhante se pensarmos nos condutores sem civismo, que não param nas passadeiras, ou ultrapassam pela direita, ou intercetam as filas de trânsito como se fossem os donos daquilo tudo e o seu tempo valesse mais do que o dos restantes seres ali presos; é também algo semelhante ao que acontece quando pessoas ficam a conversar em frente às portas de qualquer estabelecimento, dificultando a entrada e saída; ou quando se fica a conversar no corredor do supermercado ou de lojas, impedindo que os outros alcancem produtos em determinadas prateleiras. enfim, uma panóplia de contextos em que nós, humanos, criámos um hiperfoco em nós e/ou na interação social em causa, e esquecemos que ainda vivemos em sociedade e que o mundo não gira à nossa volta, e há mais pessoas naquele espaço.
obviamente também reconheço todas as pessoas que, pelo contrário, são sensíveis aos outros. que reparam e ajustam o seu lugar no espaço e o adequam ao outro, num ato de civismo empático e de uma bondade extrema. aliás, como o é o sair e voltar a entrar na carruagem do metro para as outras pessoas saírem. a todos vocês: saibam que vos vejo e que, se dependesse só de mim, levariam todos o nobel da paz.