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no sábado passado fui ver banzo, filme de margarida cardoso que estreou na semana anterior nos cinemas portugueses, mas fora apresentado no indie lisboa em 2024. foi também uma desculpa para visitar pela primeira vez o famoso cinema ideal, para uma sessão especial com a própria realizadora. infelizmente, acabei por não ficar para a discussão, mas ficou a reflexão.
não sou grande entendido da sétima arte, mas gostei bastante do filme, da sua fotografia e, sobretudo, da sua banda sonora. apesar do ritmo lento da narrativa, senti que o filme era imersivo: já só faltava sentir a humidade apresentada no ecrã dentro da sala de cinema para acreditar que tinha viajado até são tomé e príncipe. a reflexão que surgiu da história, da narrativa em estado quase passivo de um médico que se arrastava na vontade pouco concretizada de ajudar ou mudar o status quo, vai para além do racismo. o tema é importante, mas para além da escravatura que os portugueses impuseram nas ex-colónias, a ideia de fundo que o filme me passou foi a de que a opressão surge nas desigualdades (económicas - e, só depois, de poder) e que é transversal aos tempos e às culturas. que a ganância do ser humano coloca em causa a nossa própria humanidade e, perante um sistema viciado que perpetua (e aumenta) o fosso das desigualdades, é muito difícil mudar as coisas à nossa volta. sobretudo quando estamos sozinhos a tentar mudá-las.
o óbvio é que isto pareça ou soe a uma desculpa. que nem vale a pena tentar mudar, porque uma só pessoa não é capaz de mudar este sistema. não é uma desculpa. é, obviamente, difícil, e nem todas as pessoas têm a capacidade de, perante falhanços, continuar a lutar pelas causas que acham importantes. e sinto que muitas vezes as coisas não mudaram, porque quem lutava ficou sem energia.
talvez seja hora de voltarmos à luta, todos juntos. falta voltar ao ativismo de há décadas atrás, que se focava nas comunalidades das pessoas, apesar das diferenças; olhando ao que nos une e não ao que nos separa (porque vai haver sempre alguma coisa - a religião, a cor da pele, a orientação sexual, outros valores, uma preferência qualquer). a diferença traz riqueza à humanidade, e isso era defendido no lema "todos diferentes, todos iguais". mas agora os problemas são identitários e, por isso, mais focados nas diferenças. e sinto que isso foi um entrave que fez crescer versões extremadas da verdade - que, agora, é relativa -, também auxiliada pelas redes sociais.
enfim, sugiro o filme. é bom, mesmo que não despertem estas reflexões.