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poderei, ainda, escrever sobre o outono? é que já antes do equinócio tinha notado o seu aproximar nas pequenas coisas dos dias, mas não tive as palavras para o dizer.
se a onda de calor, marcada pelos terríeis incêndios que destruíram mais de 120 mil hectares de floresta portuguesa, fizesse na capital achar que estávamos no verão, a verdade é que o anoitecer pelas 20h já anunciava a mudança de estação. nas minhas palavras, juro ter ouvido as vozes da minha avó e das minhas tias, talvez até da minha mãe: "olha, como já se conhecem os dias". era, sem dúvida, um destruir (muito menos danoso) da ilusão de que o verão e os seus digas longos seriam eternos.
mesmo que o equinócio se tenha dado apenas há sete dias, a verdade é que não ouvir nas minhas manhãs o chilrear das andorinhas era já um prenúncio de que haviam partido para um lugar mais quente. e se isso não fosse suficiente, lá fora, os castanhos e dourados iam gradualmente pintando o verde e o cinza nos jardins e passeios. é que o vento foi convidando as folhas para dançar, anunciando de mansinho a chegada do outono. e quando finalmente chegou, com chuva, vento forte e o frio, não poderiam restar dúvidas. muitas mais árvores foram despidas, e a natural decadência natural da época despontou.
este ano, talvez pela primeira vez, quis manter a ilusão de que o verão seria eterno - porque não o aproveitei como desejaria. fui mantendo a ilusão, é verdade. mas se eu pudesse alguma vez pensar que, com céu azul e o sol a brilhar na capital, me esqueceria que o outono estaria prestes a chegar, todos estes sinais não deixariam. e, agora que chegou, percebi que tinha, afinal, saudades desta bela estação. fiquei, afinal, feliz.